sábado, 27 de fevereiro de 2016

Eis me aqui

Eis que venho buscando a felicidade;
Aquela mesma que eu encontrara,
Antes, em teus olhos vívida,
Mas que eu perdi no fim.

Eis que venho buscando a calmaria;
A mesma que eu já sentira
Quando jazido em teus braços e,
Entretanto, não soube aproveitar.

Eis que venho buscando o amor;
O amor que tinhas tu por mim,
Mas, de repente, deixaste de tê-lo
À falta de reciprocidade

Eis me aqui, sem felicidade
Sem amor, sem a calmaria
Sem qualquer coisa que eu ganhara
Quando você ainda eu tinha

Samuel Pereira

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Tarde demais!

Mais uma noite que não consigo dormir
Talvez eu tenha me acostumado ao seu corpo
Sinto que seja isto a causa da insônia
Mas, agora, é tarde demais para qualquer coisa

Se eu pudesse me fazer entender,
Você acreditaria em mim;
E agora já é muito tarde para qualquer coisa
E, novamente, tenho insônia.

Eu até queria que você pudesse me ver agora,
Mas está tarde para tentar qualquer coisa.
Mais uma noite em claro!
Talvez seja a falta do seu corpo.

Agora não tenho mais tempo para tentar qualquer coisa
Ainda estou acordado
Sentindo falta do seu corpo.
Ah! Mais uma de muitas noites sem dormir.

Samuel Pereira

domingo, 21 de fevereiro de 2016

Lembrança

Hoje vai ser um dia muito especial. Papai vai nos levar ao parque de diversão. Já estão todos preparados, só falta a mamãe terminar de arrumar o cabelo. Agora são 7h. Chegaremos lá por volta das 8h. Eu fui o primeiro a acordar. Quando papai chegou ao meu quarto eu já estava de tênis. Ele pegou e olhou um porta-retratos com algumas fotos minhas e saiu.
Karina, minha irmã, foi a última a acordar. Há alguns dias que estou ouvindo ela dizer que não tem motivos para ir se divertir. Parece que ela está o tempo todo triste. Há alguns meses, li na internet que isso pode ser normal na idade dela. É a tal da adolescência; mas mamãe e papai insistiram que ela fosse.
Ouvi papai gritando “Vamos, então”. Já estavam todos prontos. Corri, então, para o carro. Queria ser o primeiro a entrar. Tentei abrir a porta do carro, mas não consegui. Achei que ainda estava trancada. Ouvi eles descendo as escadas para a garagem e escondi-me atrás de um saco plástico onde havia roupas para serem doadas. Papai desbloqueou as portas e, quando Karina abriu a porta, aproveitei e entrei atrás dela. Ela quase acertou o braço em meu rosto quando foi fechar a porta e nem pediu desculpas. Fiz cara feia para ela e a única coisa que ela disse foi que estava com um pouco de frio.
Papai ligou o carro e quando mamãe abriu a porta da garagem ele saiu. Mamãe fechou o portão e entrou no carro. Todos estavam com cara de desanimados e estavam em silêncio, então, fiquei quietinho também a viagem toda. O único som era o do pen drive no rádio tocando Kashmir de uma banda que papai adorava.
Quando chegamos no parque, fomos à bilheteria para pegar as entradas e ouvi papai dizendo que eram apenas três. Fiquei surpreso porque da última vez que viemos eu pagava meia entrada. Acho que houve alguma alteração. Caminhamos até a entrada e papai entregou as entradas para o homem que as recebia na entrada e ele, em seguida, disse para aproveitarmos o dia. Acho que ele não estava gostando de trabalhar, pois eu disse “Muito obrigado, senhor”, mas ele não respondeu.
Depois que passamos a entrada, andamos mais alguns metros e, de repente, Karina para e começa a chorar. “Eu não vou conseguir”, dizia ela, chorando. Eu fiquei assustado. Será que ela tem medo de brinquedos de parque de diversão, pensei. Mas na última vez que viemos ela não fez isso. Ela adorou vir ao parque da última vez. Lembro-me que, logo que entramos no parque, ela agarrou minha mão e saiu correndo, puxando-me e dizendo para irmos logo. Então porque ela estaria chorando desta vez? Estranho.
Mamãe a abraçou e papai ficava dizendo que tínhamos que superar o que aconteceu. Que tínhamos que enfrentar o passado. E que ficar em casa trancados não mudaria o que aconteceu. Apenas pioraria. Eu não estava entendendo nada. Karina disse que sabia que nada mais poderia ser feito, mas que ainda não estava preparada para aquilo.
- Tudo bem, filha. Vamos voltar – disse papai.
Eu fiquei assustado e ao mesmo tempo triste porque iríamos voltar para casa, pelo que entendi, e eu nem sabia o porquê. Tentei perguntar o motivo de voltarmos, mas ninguém me respondia. Sequer olhavam para mim. Apenas os segui de volta para o carro. Entrei atrás da Karina de novo. Eu fiquei bravo, mas no carro não tentei perguntar de novo o que estava acontecendo. Karina ainda chorava e, agora, mamãe também estava chorando.
Ao chegar em casa, mamãe abriu o portão e papai entrou com o carro. Karina abriu a porta e saiu correndo. Acho que correu para o quarto. Nem fechou a porta do carro. Eu saí do carro e papai fechou a porta. Trancou o carro e subiu as escadas. Subi, em seguida. Fui até a porta do quarto da minha irmã. Ela estava deitada em sua cama. Aproximei-me e ela puxou um cobertor e cobriu-se. Acho que não queria conversar.
Decidi, então, falar com meu pai. Fui até o quarto dos meus pais e eles também estavam deitados na cama. Aproximei-me e mamãe reclamou que estava sentindo frio. Papai levantou-se e pegou um cobertor fino e cobriu minha mãe. Ela ainda chorava um pouco. Fiquei triste por vê-la assim, então nem perguntei nada.
Desci até a sala e sentei-me no sofá. Estava com muito sono, talvez por acordar cedo. Deitei-me. Adormeci. Acordei algumas horas depois e levantei-me do sofá. Escutei conversas na cozinha e fui até lá. Estavam meus pais sentados à mesa jantando. Junto estava um homem segurando um microfone e um outro segurando uma câmera. Enquanto eu me aproximava devagar, ouvi uma coisa que me fez parar.
- Sinto muito pelo que aconteceu, Richard – disse o homem com microfone ao meu pai.
- Ainda está sendo muito difícil para nós – disse meu pai.
Parei, pois tive a impressão de que todos sabiam de alguma coisa. Menos eu. Em seguida, papai segurou a mão da minha mãe e foi neste momento que ele disse uma coisa que me deixou perplexo o suficiente para sair correndo dali.
- A morte do nosso filho vai ser uma dor que nunca superaremos por completo. Ainda mais do jeito que ele foi morto.
Sai correndo para meu quarto. Não entendi por que papai disse aquilo para aquele homem que eu nem conhecia, mas deixou-me muito triste. Acho que ele não gosta mais de mim. Joguei-me em minha cama e chorei até adormecer. De repente, sinto alguém me cutucando os ombros e acordo. Quando me virei para ver quem era, fiquei impressionado. Era uma pessoa estranha. Eu nunca a havia visto, mas, inexplicavelmente, não senti medo dele. Parecia um anjo. Fiquei impressionado porque estava brilhando. Uma luz irradiava de seu corpo.
Ele estendeu-me a mão e disse que estava chegando a hora de eu partir. Disse que era para eu ir com ele para me mostrar uma coisa. Eu segurei sua mão e, de repente, estávamos de volta à cozinha, diante da mesa de jantar. Assustei-me. Ele pediu, então, que eu ouvisse o que papai estava dizendo. E, a cada palavra, eu sentia que uma lâmina perfurava meu coração.
- De tanto que nosso filho insistiu, deixamos o trabalho extra de lado e planejamos um final de semana em família – explicava papai. – Era a primeira vez da Karina no parque e, quando entramos no parque, ela segurou a mão dele e disse que iriam se divertir. Havíamos combinado de nos encontrar na entrada às 18h para irmos embora. Infelizmente, não ficamos nem uma hora nos divertindo. Enquanto eu e Michele estávamos na fila para a montanha-russa, Karina aparece desesperada dizendo que não estava encontrando o Vítor.
Gelei quando ouvi meu nome.
- Saímos da fila – continuou mamãe – e fomos procurar pelo nosso filho. Procuramos por meia hora e nada. Pedimos, então, a ajuda do parque. Eles divulgaram pelo microfone as características do Vítor, como as roupas que estava usando. Esperamos uma hora e ninguém apareceu com nosso filho. Chamamos a polícia.
- Quanto tempo levou para que encontrassem seu filho? – Perguntou o homem do microfone.
- A polícia procurou por dois dias. No segundo dia encontraram seu corpo numa pequena área cheia de árvores atrás do parque – explicou papai. – Ele estava no chão com sinais de estrangulamento e algumas facadas pelo corpo.
Papai começou a chorar. Mamãe começou a chorar. E eu também.
- Talvez, se não tivéssemos o deixado somente sob os cuidados da Karina, isso não teria acontecido – disse mamãe. – O pior é que ela se culpa pelo que aconteceu, mas não foi culpa dela. Ela nos disse que, enquanto ele foi ao banheiro, ela foi comprar sorvete numa das barraquinhas que ficava em frente ao banheiro. Ela voltou com o sorvete, mas ele demorou muito para sair. Ela pediu para que um homem que estava entrando no banheiro verificasse se estava tudo bem com seu irmão. O homem disse que não havia nenhuma criança no banheiro. Foi quando ela nos procurou, desesperada.
- O pior é que nem sabemos quem o matou e por que o matou. Ele era apenas uma criança – disse papai, ainda chorando. – Desculpem-me.
Neste momento, recordo-me do acontecido. Lembro-me que Karina deixou-me na porta do banheiro e disse que ia comprar sorvete. Entrei no banheiro e havia um homem limpando. Ele tinha um latão enorme de lixo com rodinhas. Era funcionário do parque. Não havia mais ninguém no banheiro naquele momento. Ele me cumprimentou e, sem motivo algum, deu um soco no meu rosto.
Depois, só me lembro de acordar dentro daquele latão, já do lado de fora do parque. Eu ainda estava meio tonto, sem saber o que havia acontecido. De repente, o latão para de se mover. Olhei para cima e vi aquele mesmo rosto do homem que me bateu antes. Ele agarrou-me pelos braços e me tirou do latão. Colocou-me no chão e tirou uma faca do bolso de trás. Eu estava com muito medo. Ele disse para eu ficar tranquilo, pois ele sabia que eu iria para céu. Então eu não gritei. Perguntei por que ele estava fazendo aquilo e ele respondeu dizendo que algumas coisas são inexplicáveis. Eu fechei os olhos. Foi quando senti uma dor insuportável, bem no peito. Esta foi só a primeira. Senti mais algumas, mas cada vez mais fracas. E parou. Senti, então, suas mãos em meu pescoço. Pensei em fazer alguma coisa, mas já não conseguia. Meu corpo estava ficando mole e senti que a vida estava saindo do meu corpo. A última coisa que lembrei, foi de ter visto os lindos olhos azuis do meu assassino e a lembrança dos rostos dos meus pais e da minha querida irmã. Acho que adormeci.
Olhei para o homem estranho que estava comigo e ele sorriu.
- Você sofreu, meu filho. Mas fique em paz. Está na hora de partir.
Entendi, então, que, naquele dia, eu havia morrido. Parecia um sonho, pois acordei em minha cama. Mas, o homem de branco explicou-me que eu não queria ir embora, pois não sabia que havia morrido. Por isso, ele me mostrou a entrevista que estava acontecendo em casa um mês depois da minha morte. Peguei sua mão e vi uma luz branca, muito forte, vindo em nossa direção. E esta foi minha última lembrança desta curta vida.

Samuel Pereira

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Cornetada

A palavra, hoje em dia,
Tem significado superficial.
Muitos dizem “Eu te amo!”
Como dizem “Feliz Natal!”.

Ninguém se preocupa em cumprir
As promessas que fizeram.
Só reclamam dos políticos,
Mas a si mesmo não enxergam.

Da boca só sai escárnio.
Coisa boa, dificilmente.
Só querem fofocar
E difamar quem é decente.

Olhe para você, hipócrita.
Fala tanto de fulano
E nem sabe que de você
Está falando o cicrano.

Cuidado!
Há seres humanos no planeta
Com suas línguas afiadas
Assoprando suas cornetas.

Samuel Pereira

A voz do meu desejo

Quando fecho meus olhos
Ouço uma voz que vem de longe;
Entra em minha mente
E faz-me adormecer.

Diz-me coisas, muitas coisas,
Que eu gostaria de ouvir.
Porém, sei que esta voz não é real.
É apenas o meu desejo.

Na verdade, a voz que ouço
Não é completamente desconhecida.
Esta voz é a sua voz.

A voz que eu desejo ouvir
O tempo todo em meu ouvido,
Mas sei que nunca poderei.

Samuel Pereira